Resenhas, artigos e contos

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[Artigo] Não está vendo que estou ocupado? Estou lendo!

Texto publicado no blog Luizdreamhope em 04/08/2011

Imagine você, sentindo os desafios estonteantes de um personagem como se fosse ele próprio, encantando-se com as descrições de um cenário instigante que está construindo na sua imaginação, vivendo as grandes emoções de uma boa história, e então, chega alguém e lhe dá uma porretada na cabeça. Mentira. Essa pessoa só perguntou se você já varreu o quintal hoje. Algo COMPLETAMENTE IRRELEVANTE na ocasião que, figuradamente, é o mesmo que você levar uma pancada na cabeça e acordar para uma realidade ignorante. 

Pois é assim que funciona uma sociedade que não tem o mínimo de consciência acerca do que é "ler". Para muitos, é apenas uma palavra terrível que possuí raízes de assustadoras tradições escolares que empregam a leitura como um castigo, ou então é uma palavra que denota uma atividade intelectual que apenas alguns "escolhidos" são capazes de executar. Enfim, num país como o Brasil, que possuí um número lamentavelmente baixo de leitores, criou-se alguns pensamentos ingênuos sobre tudo o que cerca a leitura. Uma delas, que estou desabafando neste texto, é aquela cena em que somos interrompidos "inocentemente" por alguém. 




Normalmente (assim espero), essas pessoas que nos interrompem não são leitoras, pois, se fossem, certamente teriam consciência do grande pecado que estariam cometendo. Não interessa se meu time ganhou, se alguém deixou algum recado para mim (a não ser se for urgente), se já comprei tal coisa, se farei alguma coisa no dia seguinte, se já coloquei o lixo para fora; são perguntas irrelevantes. É tão difícil perceber o ato de ler como uma ocupação? Essas pessoas que interrompem sempre tomam o leitor em atividade como alguém que está simplesmente passando o tempo, que não está fazendo nada demais, ou até mesmo que está tão entediado que pegou um livro para ler. Os campeões de interrupções, geralmente, são os familiares, que sempre nos importunam com perguntas extremamente triviais. 

Se a interrupção é assim tão frequente na leitura, imagine na escrita? Quando estou escrevendo, totalmente concentrado, e chega alguém reclamando, sem o mínimo respeito pelo o que estou fazendo, sem nem sequer saber sobre o que estou escrevendo - uma postagem para um blog, um capítulo do meu livro, um trabalho complicado para a faculdade - como se isso não fosse nada? 

Leitura e escrita deveriam ser tarefas importantes o bastante para serem respeitadas. Mas nunca é bom perder a esperança. Sonharei com o dia em que leitores serão respeitados nos momentos quando são leitores. E o mesmo vale  para os que são escritores.