Então
chegamos ao Ensino Médio. O que dizer de minha experiência com os livros
durante esse período? Um saco! É mais ou menos a resposta que está na ponta da
língua de muitos adolescentes, quando indagados sobre a aula de literatura, ou
pior, sobre a literatura. O motivo pelo qual isso acontece não é tão difícil de
averiguar se conversarmos com alguém jovem. Particularmente, não preciso
indagar a ninguém, pois participei ativamente desse problema gerado em sala de
aula. Eu poderia separar uma, duas, três, infinitas postagens sobre o assunto,
mas TENTAREI ser sucinto na questão e focarei apenas na minha própria
experiência.
Meu maior
problema no Ensino Médio foram os (na época, malditos) clássicos. Eu ainda não
compreendo (e acho que não quero) a “brilhante” ideia de forçar um estudante que pouco sabe as direções profissionais de sua
vida a ler determinado livro simplesmente porque tem que ser lido. No final, descobrimos a resposta: vestibular.
Então, chegamos à conclusão que a aula de literatura, um momento de desfruto da
arte, é, meramente, parte de um sistema acadêmico que delimita suas extensões.
Ou seja, é um ambiente penoso para o aluno que vê ali um curso como todos os
outros, quando deveria ser algo completamente distinto dos demais.
A questão
crucial que todos precisamos levar em conta: a maioria dos brasileiros não lê,
portanto, há adolescentes que também não leem. Feita essa observação, a
primeira tarefa de um professor deveria ser estimular o aluno a ler antes de se
sustentar num cronograma acadêmico, já dito, indubitavelmente limitado. Eu me
encontrava justamente nessa questão. Não que eu não gostasse de ler, mas
simplesmente não tinha o hábito. Os
livros, como mencionei na última postagem dessa coluna, foram desgostosos nos
últimos anos do Ensino Fundamental, e levei todo essa insatisfação para o Ensino
Médio.
Todavia,
antes dos clássicos da literatura brasileira, a professora nos deu um livro
contemporâneo, uma ficção de suspense chamada O Corpo Morto de Deus, de Giselda Laporta Nicolelis. Era um livro
interessante e dentro dos meus gostos de leitura, muito me recordava as
aventuras de suspense que lia quando criança. Pensei, na época, que as próximas
leituras seriam convenientes também, mas me enganei. De um livro de suspense
passou para um romance social escrito décadas atrás; uma mudança radical.
Nem me
recordo da ordem dos livros, mas posso listar O Alienista, Dom Casmurro,
Vidas Secas, A Hora da Estrela, e outras leituras largadas tudo pela metade.
Verdade seja dita: a maioria dos alunos sempre acessa um “resumo.com” e todos
ficam felizes com seus trabalhos. Eu mesmo fiz isso. E não me arrependo nenhum
pouco de tê-lo feito! Não conseguia (e hoje ainda não consigo) ver a obrigação de leituras tão fora da
realidade do adolescente, embora haja como tais obras cativarem o estudante,
caso o professor realize atividades mais dinâmicas e dê mais liberdade para
interpretações dos alunos: menos foco nos instrumentos literários e mais na
obra em si. Mas nisso ainda temos a primeira questão que mencionei: se o aluno
não é leitor, é salutar fazê-lo ser. E não importa como um livro seja
apresentado ao estudante, ele talvez nunca vá se interessar por ele, pois o
fato de gostar ou não de um livro passa pelo próprio gosto do leitor, gosto
esse que se modifica ao longo dos anos. Logo, é estupidez a obrigação de certas leituras na escola. O estudante de Ensino Médio
é um leitor comum, e não um acadêmico; aquele lê o que quiser. Ler ou não ler é
um direito sagrado de qualquer leitor.
Enfim, eu pouco
discorri sobre meu histórico de leitura e escrevi sobre algo mais geral, mas
não me incomodo. É uma visão calcada em toda minha experiência naquele período.
A verdade é que o leitor dentro de mim foi completamente destruído por
imposições que eu não queria obedecer: ler livros que eu não gostava
simplesmente porque cairiam no vestibular. Além do mais, as aulas de literatura
são excessivamente fissuradas em escolas literárias, conhecimento que poderia
ser passado de modo sucinto ao aluno (já que, no final das contas, basta olhar
resumos de internet), e pouco focado na obra em si.
Mas, como eu
gostaria que a professora me recomendasse alguma obra de fantasia, ficção
científica ou suspense policial! Eu iria ADORAR! Mas não foi assim. As aulas de
literatura foram um saco!
Acredito que
vocês devam estar me perguntando o que faço então numa faculdade de Letras se
olhava a literatura de forma tão abominável, certo? A reposta para isso... na
próxima postagem.
2 comentários
Ótima coluna, Luiz! Realmente esse é uma situação muito complexa, que acaba prestando um grande desserviço à formação à literatura.
Quando eu estava no colegial teve um ano em que a professora decidiu mudar um pouco e ofereceu alguns livros da coleção Vaga-lume e nós podíamos escolher qualquer um deles para ler. E foi ótimo, li Office-Boy em Apuros numa boa, gostei, fiz um belo resumo. Pena que na maioria dos anos não foi assim.
Me lembro de ter sido obrigado a ler Senhora, de José Alencar, livro que eu achei um saco na época e continuo achando até hoje. Não que eu tenha nada contra os clássicos, ao contrário, gostei muito de Memórias Póstumas de Brás Cubas que comprei bem depois do colegial, por vontade própria.
Acredito que o melhor caminho seria oferecer (oferecer, não empurrar) livros escolhidos melhor de acordo com a idade e deixar os clássicos que caem no vestibular para os últimos anos do ensino médio. E até sugiro que usem livros de massa mesmo.
Pra mim, não importa se uma adolescente está lendo Crepúsculo (se quiser, ela procura algo mais complexo depois), o que importa é que ela está lendo.