Apostando
no universo dos games e seus personagens, Detona
Ralph, produção da Disney e indicado ao Oscar de 2013 na categoria melhor filme de animação, não
decepcionou.
Apesar
da impressão inicial antes do lançamento de que o filme se apoiaria em
personagens de games, tal ideia foi, ao longo da animação, se apagando para
mostrar roteiro e personagens próprios. Logo, o espectador gamer que assistiu ao filme unicamente pensando que veria heróis e
vilões dos jogos lutando, como Sonic e Robotnik (nosso conhecido Chefão),
provavelmente desgostou quando a trama começou a deixar as referências de lado
para avançar numa estrada própria chamada Sugar
Rush (cenário onde se passa a segunda metade do filme). No entanto, a
primeira meia hora, mais especificamente, a cena da reunião dos vilões no
começo da história é suficiente para alegrar alguns saudosistas. Em suma, os
personagens na imagem abaixo junto com o protagonista situam-se entre
figurantes e coadjuvantes.
O cenário do filme é dividido em três camadas:
a loja de fliperama, o próprio fliperama em que os personagens aparecem como se
realmente fossem parte do jogo, e o mundo dentro do fliperama. Todos esses
mundos são conectados a uma Central onde todos os personagens se encontram, às
vezes visitando os jogos de outros personagens (como a ida num bar no final de
um expediente de trabalho — quando a loja é fechada). Achei a ambientação bem
interessante e lembrou-me vagamente Toy Story: brinquedos ou personagens que
ganham vida própria enquanto as crianças não estão os usando, além de regras
que não devem ser quebradas na frente das crianças (no caso dos games, o
personagem deve obrigatoriamente seguir os comandos do jogador).
Para
fazer jus à evolução dos games desde a década de 80 aos dias atuais, o filme
perpassa, mesmo que um pouco, por diferentes estilos: a representação de Ralph
e outros personagens caminhando pela dungeon
do Pacman até sua atuação num jogo de tiro com gráfico de Xbox360 ou
Playstation3. Característica semelhante pode-se notar através da trilha sonora,
que remete aquele som mais clássico dos jogos do Mario e do Sonic até a música
de alta definição dos jogos atuais.
Talvez há uma ou duas décadas, a visão de que apenas garotos jogavam videogame era um senso comum. Hoje em dia não é tão verdade, e esse fato é mostrado no filme, pois é uma jogadora (embora de aparência nerd estereotipada) que mais aparece enquanto joga fliperama, quando o natural seria tal personagem ser representado por um garoto.
Os
trailers e a divulgação da animação passam a ideia de uma história cômica,
descontraída, mas a trama reserva boa parte de um conteúdo emocional. Os
personagens Ralph e Vanelope conseguem cativar facilmente devido às semelhanças
entre suas histórias e seus objetivos: ser reconhecidos. Tomando como exemplo a
própria história de Ralph, um vilão que quer renunciar sua tarefa para ser reconhecido
como um herói para que as pessoas lhe deem valor, mostra-se como uma
peculiaridade salutar às melhores histórias voltadas para o público infantil e
infanto-juvenil, que é a capacidade de fascinar tanto o mais jovem quanto o
mais velho devido às camadas de significação presentes na trama.
Vale ressaltar também a boa qualidade de dublagem que acertou em quase todos os personagens.Meus aplausos também para um curta de animação que passou pouco antes do filme, chamado O avião de papel. Achei-o bonito e com ótima sincronização de som e imagem.