Como expliquei na última postagem dessa coluna, minha repulsão pelos livros, de forma geral, era grande graças às aulas de literatura no Ensino Médio. Não conseguia sentir prazer algum naqueles livros "chatos" indicados pela professora. Mas eu os lia, não totalmente, claro. E enquanto folheava aquelas páginas, tinha a impressão de que eu realmente queria gostar daquilo, gostar de ler: era um rescaldo de minhas leituras na infância, uma chama distante que eu procurava na escuridão. A verdade é que eu sempre gostei de ler histórias, mas, lentamente, fui perdendo esse gosto para dar passagem a outras mídias que também se dispõem a contar histórias, como os games, os filmes, os animes e os mangás. E foi no embalo do universo dos animes, que descobri, enquanto navegava na internet, o mundo das fanfics.
Para quem não conhece o termo, fanfics são histórias escritas por fãs de determinada ficção, seja esta livro, filme, seriado, quadrinhos, anime, ou até mesmo de pessoas famosas (particularmente, nunca entendi o conteúdo desta última). E por ser uma história amadora, desde que não a use para o próprio lucro, os fãs podem fazer desde tramas coerentes até as mais absurdas, como, por exemplo, um relacionamento entre Draco Malfoy e Hermione Granger (a pessoa precisa "viajar" muito para fazer isso de um jeito aceitável). Os tipos de fanfics são inúmeros, e, quem sabe, explicarei a maioria deles numa futura postagem.
Embora eu tenha lido e escrito algumas fanfics de Naruto e outras histórias, havia uma categoria, chamada Originais, que mais me chamava atenção. Nessa categoria, escrevia-se fics ao invés de fanfics. Eram histórias originais sem qualquer embasamento direto de outra ficção. Foi aí que redescobri novamente o prazer da leitura, fugindo das obras canônicas e mergulhando, sob a ótica literária, numa das escritas mais marginalizadas, porém, marcantes devido ao contexto em que tomei contato com elas. Eu tanto era leitor quanto escritor de fics. Como estou aqui apenas tratando de leitura, deixarei minha experiência de escrita para a coluna "Formação como escritor" ainda a ser publicada. Tratarei apenas de minhas leituras e em que elas contribuíram para me formar leitor.
O motivo de eu ter sido tão instigado por essas fics é que elas contavam o tipo de história que me agradava. E, diferentemente da escola, eram leituras voluntárias, fazia-as por vontade própria (afinal, é assim que se forma um leitor). Meu site de leitura para fics foi o Nyah Fanfiction, naquela época tão acessado por mim quanto o Facebook hoje em dia. Sempre que chegava em casa ou no laboratório de informática da escola, lá estava eu, lendo. Vou enumerar aqui algumas das histórias que mais gostava de acompanhar e que lembro até hoje. Elementais (Rafael Pombo), Guardians (Luciane Rangel), Moon Slayers (Yasmin Kader), A Ordem de Drugstrein, Crônicas de Alberathon (Kamui Black), Elemental (Hyouchi), Resgate (Resgate[era esse o seu nick]), Seven Sister (Petit Ange), Estação das Ilusões (Storm Raven) e outros ficwrites como a Nane-chan, Ryuuzaki, Soujirou Seta, Palas... Nossa, são tantos que somente uma busca minuciosa no meu histórico do Nyah e dos sites que participei (incluindo fóruns e Orkut) dariam conta de colocar todos aqui. Muitos desses ficwrites se tornaram escritores, como é o caso da Luciane Rangel, que publicou sua trilogia Guardians, e Rafael Pombo, autor de Elementais; outros continuam escrevendo com a pretensão ou não de publicarem.
Meus profundos e sinceros agradecimentos a todas essas pessoas que compartilharam suas histórias, que transformaram meu tempo em momentos de leitura, em momentos que não vou esquecer. Se hoje sou um leitor, foi por causa desses momentos. E, como leitor, não importa o quanto eu evolua, sempre olharei para trás e sorrirei para essa época de (re)descobrimento da leitura.
Então, adquirido novamente o gosto pelas palavras, era hora de dar um passo à frente. Era hora de olhar para os livros de um jeito diferente. Do jeito como mereciam: como amigos.
4 comentários
Dei de cara com esse blog por causa de uma resenha recente de One Piece. Como gostei do conteúdo, resolvi explorar um pouco mais e acabei achando essa série de artigos sobre a sua formação como leitor. Acho que boa parte das pessoas que gostam de ler hoje em dia tiveram a mesma experiência traumática com as leituras obrigatórias da escola. Enfim, o que me surpreendeu mesmo foi achar alguém dos velhos (e bons) tempos do Nyah. Eu escrevi poucas fanfics ao longo dos anos, e a maioria delas acabou se perdendo pelo fato de eu nunca salvar nada e sempre contar com os sites (grande erro, haha). No Nyah eu tinha um original chamado Legend of Blood (essa fase de títulos em inglês, blargh) e cheguei a ler Mundo Sombrio na época em que você colocava algumas imagens de RPG Maker pra ilustrar a história, haha. Como esse comentário tá ficando grande, e essa matéria tá meio velha pra eu ficar revivendo, vou cortando a nostalgia por aqui.
Desculpa a demora em responder, rs. Meu nick era Ammber/Amber (yep, faz tanto tempo que não tenho mais certeza da escrita).