Editora: Suma das Letras
Ano: 2012 (originalmente publicado em 1982)
Páginas:415
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Sinopse: Com incansável imaginação, Stephen King dá continuidade à magistral saga
épica A Torre Negra. "A Escolha dos Três", segundo volume da série,
lança o protagonista Roland de Gilead em pleno século XX, à medida que
ele se aproxima cada vez mais de sua preciosa Torre Negra, sede de todo o
tempo e de todo o espaço. Um derradeiro confronto com o homem de preto
revela a Roland, nas cartas de um baralho de tarô, aqueles que deverão
ajudá-lo em sua busca pela Torre Negra: o Prisioneiro, a Dama das
Sombras e a Morte. Para encontrá-los, o último pistoleiro precisará
atravessar três intrigantes portas que se erguem na deserta e
interminável praia do mar Ocidental. São portas que o levam a um mundo
diferente do seu, em outro tempo, de onde ele deverá trazer seus
escolhidos: Eddie Dean, um viciado em heroína; Odetta Holmes, uma bela
jovem negra que perdeu as pernas em um medonho acidente e sofre de
misteriosos lapsos de memória; e o terceiro escolhido, a Morte, que vai
embaralhar mais uma vez o destino de todos. A primeira porta o leva à
Nova York dos anos 1980 e a Eddie Dean. A segunda transporta o
pistoleiro à mesma cidade, mas dessa vez na década de 1960. A Dama das
Sombras que Roland encontra atrás dessa segunda porta é Odetta Holmes.
Roland e Eddie não demoram a descobrir que a mente de Odetta abriga
também a malévola Detta Walker, num evidente distúrbio de dupla
personalidade. Com o terceiro escolhido, A Morte, as cartas tornam a se
embaralhar e a busca de Roland pela Torre Negra sofre uma nova e
imprevisível reviravolta.
Resenha
A desvantagem na leitura de
uma série literária, quando seus volumes não são lidos consecutivamente, é o
esquecimento de alguns fatos anteriores no enredo, o que obriga o leitor a
reler um ou mais livros para atualizar a memória. Mas no caso de A Escolha dos Três, segundo volume da
série A Torre Negra, Stephen King
traz no prefácio um sucinto resumo dos principais acontecimentos de O Pistoleiro, informações suficientes
para refrescar a memória do leitor.
Muito diferente do primeiro
livro, A Escolha dos Três tem uma
narrativa coerente e linear, além de uma linguagem mais palpável. A escrita
poética e subjetiva se perdeu um pouco para uma que procura
contemplar a clareza. Provavelmente foi uma opção para se adequar ao cenário da
história, pois boa parte dela se passa no mundo real. Algumas passagens, no
entanto, são narradas no tempo presente sem nenhum motivo aparente (ou não
consegui discernir a razão disso).
Enquanto que em O Pistoleiro contávamos apenas com o
ponto de vista de Roland, nesta segunda parte, devido à presença de alguns
personagens fixos e outros secundários, temos uma leitura mais dinâmica, um
adequado aprofundamento nos pensamentos dos personagens e sua relação com a
cena em que estão inseridos. Essa alternância dos pontos de vistas é
normalmente feita por sub-capítulos. Aliás, os capítulos fazem parte de uma
estrutura mais organizada, compondo os três arcos da história referentes aos
três personagens principais com quem Roland irá se deparar.
O confronto de Roland com o
mundo real é um instigante contraste e uma inversão do paradigma nas histórias
de Fantasia. Normalmente, é o protagonista do “mundo comum” quem viaja para o
“mundo especial”, e desse modo encarnamos esse personagem para conhecermos
juntos com ele os mistérios de um novo mundo. Em A Escolha dos Três, é o personagem do “mundo especial” quem
atravessa para o “mundo real”, acompanhamos o seu deslumbramento por nosso
mundo, e apenas isso. Claro, para Roland, ele está atravessando de seu “mundo
comum” para um “mundo especial”, diferente de nós, leitores. No entanto, há
passagens que Roland compara certas características de nosso mundo com as do
dele, e assim temos acesso ao “mundo especial” que, para Roland, é seu “mundo
comum”. Ao que parece, A Escolha dos Três
serviu para fazer o leitor caminhar do seu mundo para o de Roland — como
acontece com os personagens que o pistoleiro escolhe —, já que o primeiro
volume não é muito explicativo.
Em O Pistoleiro, Roland, sozinho, foi capaz de dizimar uma cidade
pequena, e isso demonstra o quanto esse personagem era poderoso. O próprio
antagonista, o Homem de Preto, servia para enaltecer ainda mais a força do
pistoleiro. Curiosamente, no segundo volume, King apresentou um protagonista
mais debilitado, devido às circunstâncias em que se encontrava, incluindo ter
alguns dedos arrancados por uma criatura grotesca logo no início da história.
Para um pistoleiro, a perda de alguns dedos numa das mãos acarretaria um
decréscimo de suas habilidades. Por isso, Roland se depara com obstáculos mais
difíceis do que poderiam ser caso estivesse em bom estado, e contando outras
desvantagens físicas pelas quais ele passa ao longo da história, sua imagem,
por não apresentar tamanha força, torna-se um pouco mais humana.
Não sei se é uma
característica dominante na literatura do King, mas neste e em outros livros
dele reparei que o início da história sempre tem um ritmo alucinante ou que
gera alguma curiosidade forte; o meio é bem arrastado; e o final traz de volta
o dobro do ritmo acelerado que se constata no início do livro.
Se em O Pistoleiro, o final da leitura dá impressão de que iremos
contemplar o início de uma história, em A
Escolha dos Três, o final da leitura nos indica o início de uma saga.
2 comentários
Adorei essa resenha. Muito bom.