Livros cativam seus respectivos leitores
de forma muito particular. As breves linhas de uma sinopse são
sedutoras, arrancam suspiros e provocam frases como “Hm, interessante.”
Uma capa deslumbrante capaz de atrair um olhar fixo por alguns segundos
tem o poder de escancarar a boca por onde um “Uau!” é proferido. O
primeiro capítulo, as primeiras páginas, o primeiro parágrafo ou quem
sabe até as primeiras linhas degustadas são indicadores que convencem o
leitor. Deixando os aspectos do livro de lado, a opinião de um amigo
leitor que corre até você dizendo “cara, esse livro é f***” também acaba
se tornando um motivo, mesmo que seja apenas para seu amigo parar de
encher o seu saco. As resenhas literárias também influenciam bastante a
imagem de um livro, e, quando bem escritas, provavelmente tornam-se os
melhores guias para o leitor. Às vezes, um fórum de discussão nas redes
sociais ou simplesmente uma conversa em grupo em torno de uma obra podem
elevar sua curiosidade em lê-la. Mas, e quando determinado livro é
alvejado pelas luzes da moda, tornando-se um best-seller, valeria a pena
mergulhar nessa leitura tão recorrente no mercado?
É nesse ponto que alguns leitores acabam
perdendo totalmente sua personalidade, viram meras peças, consumidores
de um sistema que necessita deles para se manter aquecido. Apesar do
objeto livro ser um produto, ele não é como aquele vestuário que se usa
apenas para mostrar aos outros que você está na moda. Só porque todos
estão lendo o livro x, não significa dizer que você também deve
lê-lo apenas para dizer que leu e, dessa forma, sentir-se incluído numa
discussão em torno do livro x. Se esse título não te fisgou,
simplesmente não o leia, e você nem precisará se preocupar com spoilers.
Agora, se estiver interessado no livro x, mas possui outras leituras
para colocar um dia, escolha entre colocá-lo como alta prioridade na sua
lista ou aguente a chuva de spoilers. O autor desse texto está até hoje enrolando a leitura de As Crônicas de Gelo e Fogo. Felizmente, sei muito pouco sobre a série, e, em se tratando da obra de George Martin, um spoiler da morte de uma personagem é irrelevante.
A massiva publicidade em torno de uma
obra encobre as demais, tornando-as quase inexistentes aos leitores que,
dentro de uma livraria, por exemplo, contornam apenas a seção dos
livros em destaque como se eles fossem os melhores (quando, na verdade,
são apenas os mais vendidos ou apostas de serem os mais vendidos pelas
editoras). Não estou querendo dizer que se deve cessar a leitura dos
best-sellers, pois eu mesmo os leio, mas apenas quando me cativam.
“Ah, mas vai passar a adaptação do livro no cinema. Eu preciso ler!”
Então leia! Se você está interessado no filme, significa que o enredo o
cativou a ponto de querer folhear o romance. Caso contrário, contente-se
apenas com a versão cinematográfica (como farei em relação a Percy Jackson e o Mar de Monstros).
Contudo, a depender de seu ritmo de leitura, talvez não seja uma opção
acertada procurar o romance de todo o filme baseado em obra literária
que passa no cinema, afinal, há mais de uma dúzia sendo lançadas a cada
ano, e você, como bom leitor, certamente possui sua lista de livros para
ler.
Isso tudo quase lembra aquelas pessoas
que usam camisas de super heróis sem nem ao menos conseguir citar três
vilões dos mesmos, ou então a estampa de uma banda de rock sem saberem
cantar uma de suas músicas. Tudo vira uma simples “marca” a ser exibida
para o mundo, popularizando o que quer que seja, mas, ao mesmo tempo,
diminuindo o seu significado, uma vez que as pessoas não são exatamente
fãs querendo demonstrar sua paixão aos outros (falou o cara que usa
bottons de Fairy Tail, Final Fantasy VII, Harry Potter, Death Note, Resident Evil, Laranja Mecânica na mochila; tirando o primeiro e o último, sou fã inveterado do restante).
Aproveito também para alfinetar o outro
lado da moeda. Temos as pessoas que sofrem de um problema semelhante aos
usuários do facebook que compartilham citações de escritores clássicos
sem nunca ao menos terem lido uma página do que eles escreveram. Essas
pessoas gostam de pagar de intelectuais, verdadeiros pseudo-cults. Dessa
forma, elas podem mostrar aos amigos o quanto está “sabendo” das
coisas. Fala que leu Nietzsche para os amigos, mas, na verdade, leu
apenas cinco páginas de A Gaia Ciência (eu nunca li, apenas
conheço superficialmente alguns conceitos postulados pelo filósofo
alemão). Ou pior ainda, fazem uma lista de livros cults e clássicos — A Divina Comédia, Ilíada, Os Irmãos Karamazov, Clube da Luta, Assim Falou Zaratustra, Laranja Mecânica —, filmes noir
e outros renomados do cinema, e pesquisam resumos na internet (leia-se
Wikipédia) para fingirem que são entendedores. Às vezes, para saber o
quanto uma pessoa é culta, basta conversar sobre Matrix com ela, filme que vai desde um blockbuster de ação a um longa cheio de referências filosóficas e outras alegorias (vou logo avisando que meu level cult ainda é baixo).
Uma simples solução que posso sugerir é que, ao entrar numa livraria,
o leitor passeie por ela, explore outras prateleiras, em vez de
simplesmente estacionar na seção dos best-sellers. O leitor deve ser o
próprio filtro de suas leituras, dessa forma, ele terá mais chances de
conseguir uma leitura prazerosa.
Texto escrito por mim para o Coffe Unlocked
8 comentários
Olá Fernando!
Legal seu post, realmente isso acontece mesmo, algumas pessoas como você citou querem apenas estar "na moda" literária do momento, mas há também os que podem ser atraídos pela curiosidade como foi o meu caso com "As crônicas do gelo e fogo", queria saber o que havia de tão especial nesses livros que várias pessoas apareciam em vários lugares lendo aqueles verdadeiros "blocos" dos livros da série, resumindo, gostei da escrita do Martin e sua forma de conduzir a trama, mas parei no primeiro livro, devido ao fato de ter assistido as 3 temporadas da série baseada nos livros e perceber que os produtores foram dentro do possível bem fiéis a obra! Quanto aos clássicos, bem eu simplesmente não me sinto atraídos por eles, ainda que me sinta na obrigação de conhecer para ter minha opinião a respeito, mas sinto que ainda tenho que amadurecer ainda mais como leitor para encará-los! Quanto a Percy Jackson, digo com toda certeza que, se você ler a série irá odiar os filmes, mas isso é só uma opinião, não estou criticando sua decisão!
Grande abraço
Claudinei Barbosa
http://resenhandoecontando.blogspot.com
Parece que essa questão de livro da moda nunca termina. Pessoalmente, eu compartilho de uma opinião que ouvi no Cabuloso Cast: "leia o que vocês gosta".
Não importa se a pessoa começou a ler porque foi atraída pela sensação do momento, o que importa é gerar novos leitores. Depois, se essa pessoa quiser, procura uma leitura mais complexa, ou não, mas não tem problema.
Ler o livro da moda não é pecado. Pecado é não ler livro nenhum.
Eu concordo plenamente com você e devo dizer que adorei o artigo. Você foi capaz de expôr a sua opinião sem ser extremista ou denegrir quem pensa diferente (não é o meu caso, but...). Eu penso que é um conceito muito simples procurar aquilo que gosta. Não tem nada de errado em gostar de best-sellers, mas se o caso for realmente esse, 'gostar', e não ler porque 'tá na moda ou porque você quer se inserir num grupinho de discussão e mostrar que sabe. As pessoas tem essa mania de quererem ser o que não são, de criar uma identidade pra si que não é real, que não dialoga com a realidade.
Acontece comigo que minha irmã mais nova tem um gosto totalmente diferente do meu pra filmes, livros e música. Excetuando a música, os outros dois itens são engraçados porque eu, que sou mais velho, gosto de fantasia, de aventura fantástica, de terror (meu gênero favorito, por sinal, para filmes, livros e jogos), ficção, enquanto ela gosta de drama, romance, aqueles enredos super complexos e cheios de filosofia. Não que os meus também não sejam filosóficos, e eu não curta enredos complexos (pra quem sabe Batman é MUITO complexo), mas é no mínimo engraçado que eu, como a mais velha, curta esse tipo de coisa enquanto a minha irmã mais nova tem gostos considerados pela sociedade mais "maduros". E eu estou bem com isso. As pessoas sempre me perguntam se eu sou criança, e me olham torto, mas, bom... eu estou realmente bem com isso.
Existem várias outras sessões nas livrarias que não as de best-seller; eu queria muito que as pessoas experimentassem olhar lá. Tem tanta coisa rica, tanto livro bom, tanto autor incrível! Se todo mundo fosse guiado pelo gosto pessoal, pelo que lhe trás prazer ler, a gente não teria tanto autor idealizado como se fosse Deus.
Adorei o artigo, um abraço! :D
Luiz Fernando, sou professora de Língua Portuguesa e participo de um grupo de leitura no Facebook.
Tomei a liberdade de indicar seu texto aos membros, visto que o fato relatado em seu texto tem acontecido com mais frequência do que se imagina.