Já reparou na quantidade imensurável de
personagens que se sentam ao lado da janela, na sala de aula, e ficam
observando o mundo lá fora? Bom, provavelmente você já fez isso pelo
menos uma única vez na vida durante aquela aula chata de (insira aqui a
matéria ou assunto que não gosta, embora a chatice possa advir da
maneira como o professor ensina). E por que olhar pela janela? Simples:
liberdade.
O protagonista de uma história não tem o
perfil de se manter sempre quieto dentro de um ambiente monótono. Chega o
momento em que isso pode deixá-lo taciturno, sem motivação alguma.
Quando um estudante olha o mundo através da janela, relegando todo o
conteúdo de uma aula, ele almeja uma experiência diferente, uma grande
aventura. Motivo? Ele não consegue encontrar a si mesmo no ambiente em
que se encontra, sente que a mudança necessária para sua vida não
ocorrerá enquanto ele não se jogar numa aventura que, com certeza, está
muito além das paredes de sua sala de aula.
Outro motivo é simplesmente o personagem
ter muita coisa na cabeça, e por isso quer roubar o tempo de aula para
matutar sobre alguns assuntos (para isso existe a escolha de matar aula,
mas ok). Talvez ele esteja ponderando as opções sobre algum problema
para então executar a solução na hora certa. Seja qual for o motivo, o
fato de um personagem olhar pela janela significa que ele está sendo
atraído, mesmo que inconscientemente, para algum tipo de aventura.
Há também a possibilidade do personagem
ser um tipo antissocial, sem motivação para interagir espontaneamente
com as outras pessoas ou desmotivado qualquer coisa que seja, ficando
apenas refletindo ou não pensando em nada. Shinji Ikari, de Evangelion, se enquadra nesse tipo.
Vocês conhecem a teoria da Jornada do
Heroi? Explicando à grosso modo, é um modelo narrativo seguido por quase
todas as histórias inventadas, constituído de 12 etapas a serem
seguidas pelo heroi. Ou seja, muitas histórias apresentam um
desenvolvimento semelhante graças a Jornada do Heroi, e mesmo quando não
é explícita, a trama acaba apresentando algumas dessas etapas. As
primeiras etapas da Jornada são “mundo comum” e “chamado à aventura”.
Vejamos o exemplo de Death Note.
Light Yagami é um brilhante estudante que se incomoda com criminosos.
Esse é o “mundo comum” do personagem. Até que um dia ele olha pela
janela e vê um Death Note caindo no gramado da escola. Esse foi o
“chamado à aventura”. Uma aventura que irá tirá-lo de seu mundo comum,
que o libertará. Ou seja, um exemplo prático e direto de como a visão do
mundo exterior através da janela fez o personagem imergir numa
aventura.
Mas deixando de lado todas essas especulações e a própria história em si, se olharmos para o trabalho do mangaká veremos que a posição do personagem ao lado da janela facilita o desenho. Se o personagem se senta-se no meio da sala, daria muito trabalho desenhar os demais estudantes, as carteiras e os materiais. Por isso, o mangaká ganha tempo e faz menos esforço quando insere o protagonista ao lado da janela, pois enquadrando-o de frente ou de lado, terá apenas o céu ou um, dois e até mesmo nenhum estudante na mesa de trás.
Postado originalmente no Gekkou Gear.