“...
Aquele que, vestindo um manto azul, deverá descer sob o campo dourado, para
forjar novamente o laço perdido com a Terra, e levar a todos, finalmente, para
uma terra de pureza...”.
Segundo
e último filme dirigido por Miyazaki antes da fundação do estúdio Ghibli, Nausicaä
do Vale do Vento começa a apresentar os temas que seriam recorrentes nas
póstumas animações do diretor, como o contexto ecológico (a preocupação com a
natureza e a consequente destruição do planeta devido à ganância humana); o
heroísmo de personagens femininas, independentes, destemidas; fixação por
máquinas aéreas; e o sentimento de um mundo pacifista frente ao desejo
beligerante do homem. O filme foi baseado na própria série de mangás de
Miyazaki.
A
história se passa em um futuro pós-apocalíptico em que a maior parte do
ecossistema do planeta foi destruída e quase todas as regiões foram tomadas por
uma floresta tóxica, chamada Mar do Declínio, habitada por insetos gigantes e
plantas que expelem no ar esporos noviços ao ser humano, que só pode entrar neste
lugar equipado com máscara de gás. A humanidade perdeu quase todos os avanços
tecnológicos de outrora, e o mundo foi segregado em pequenos reinos
(comunidades).
Nausicaä
é a princesa do Vale do Vento, um reino aprazível graças aos sopros do vento
que não permitem que a atmosfera tóxica do Mar do Declínio chegue até eles. Ela
possui uma relação particular com os insetos, conseguindo alcançar algum
entendimento mútuo e, até mesmo, aplacar a ira dos Ohms — seres artrópodes que
protegem o Mar do Declínio. É bastante habilidosa com seu planador, veículo
indispensável em muitas ocasiões, inclusive nas de maior perigo. Seu nome
provém da mitologia grega: Nausicaä, na Odisséia,
é uma mulher que ajuda o náufrago Odisseu nas praias de sua terra; ela
personifica a bondade e a hospitalidade para com os estranhos, características
que também estão presentes na personagem de Miyazaki (em relação à natureza e
ao ser humano). A personalidade de Nausicaä também foi baseada em um conto do
folclore japonês chamado “A Menina que Amava Insetos”.
Quando
uma nave do reino de Pejite cai no Vale contendo uma valiosa carga — um
guerreiro gigante e ancestral, adormecido, com o poder de queimar os Ohms e
todos os insetos do Mar do Declínio, o reino de Tolmekia toma os moradores do
Vale do Vento como reféns e assassina o seu rei para que consigam o guerreiro
gigante. Como Pejite deseja a destruição dessa máquina, o Vale do Vento acaba
se situando entre o conflito de ambos os reinos. A princesa Nausicaä, então,
procura impedir que sangue humano seja derramado, não só dos moradores do Vale
do Vento, mas também dos tolmekianos e peijitianos, além de salvar os insetos
que tanto ama e impedi-los de voltar sua fúria natural contra os povos.
A
ambientação da história é muito bem trabalhada e participa ativamente do enredo
(que provavelmente influenciou na produção de alguns rpgs clássicos
posteriormente). A trilha sonora consegue dar o tom certo nas cenas, potencializar
a emoção e elevar a qualidade do filme. Nausicaä é uma personagem muito bem
construída, sofre provações e mudanças como qualquer herói (bem nítidas e
trabalhadas na animação), e traz a força dessa mudança ao clímax no final do
filme.