Em tempos belicosos, os cidadãos de cada
nação em guerra são impelidos a pensar em seus inimigos como pessoas
despidas de humanidade e vestidas por monstruosidade; a completa
ausência de alteridade como condição para o extermínio do outro em prol
da ideologia de seu país. Para isso, as ações propagandísticas atuam
como fermentador para infundir, na massa (principalmente nos soldados),
um pensamento maniqueísta em relação à guerra.
No cenário da Segunda Guerra Mundial,
tanto a Alemanha quanto os EUA apostaram nesse meio para perpetuarem seu
sistema de ideias. Os estadunidenses, por exemplo, encontraram no
estúdio Walt Disney uma forma de executar uma propaganda antinazista. Outro curta-metragem da Disney chamado Der Fuehrer’s face já havia mostrado o Pato Donald exposto como um soldado nazista. Porém, no caso de Education for Death (Educação para a morte),
produzido em 1943, não temos um personagem icônico e humorístico para
atenuar a mensagem da propaganda e sim uma história mais densa e
incisiva a respeito do nazismo. Baseado no livro Education for Death: The Making of The Nazi
(cuja capa aparece no início do filme), do escritor Gregor Ziemer, esse
curta de apenas 10 minutos narra a história do menino Hans, que tem sua
mentalidade (e até mesmo seu fado) moldada desde os primeiros anos de
infância para adorar a ideologia nazista.
Logo de início, é interessante observar
que os diálogos entre os personagens alemães não são traduzidos, exceto
aqueles reproduzidos pelo narrador da história. Como o espectador não
compreenderá a língua germânica, irá buscar seu entendimento na visão do
narrador, o que ilustra o objetivo do filme: uma visão do nazismo a
partir dos estadunidenses.
O filme é carregado de alegorias. Por exemplo, o conto de fadas de A Bela Adormecida
é representado numa versão deturpada: a bruxa faz o papel da
democracia, a princesa é a Alemanha, e o príncipe é Hitler. Quando o
príncipe afugenta a bruxa e beija a princesa que jazia em sono profundo,
esta acorda saudando o ditador enquanto ele discursa fervorosamente
para o deslumbre da princesa (é interessante observar nessa cena o
surgimento de chifres que demonizam Hitler). Outra cena importante é a
educação escolar de Hans. Por dar uma resposta que contradiz o modo de
pensar nazista, o garoto é fortemente repreendido, tendo sua liberdade
de expressão abolida, e passa a seguir a opinião coletiva de seus
colegas que dão a resposta “correta”. Há também uma sequência de cenas
simbólicas: livros importantes sendo queimados, a Bíblia substituída
pelo Mein Kampf, a imagem de Cristo pelo punhal nazista etc.
É interessante notar também o jogo de
sombras em algumas cenas que causam contraste entre opressor e oprimido,
além de traços mais brutos e silhuetas escurecidas para representar os
oficiais alemães. Mas a animação chega ao seu clímax nos últimos
momentos do filme, quando mostra Hans junto de outros soldados marchando
em um panorama bélico e caótico.
Em suma, um vídeo que cumpre fortemente seu papel de propaganda antinazista.
Postado originalmente no site Literatortura