Resenhas, artigos e contos

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[Resenha - mangá] Assassination Classroom #12

Pincelar um personagem que aparecerá ativamente em algum ponto futuro na trama é um artifício comum nas histórias. Serve para prender o leitor e criar expectativas, principalmente se o tal personagem dar indícios de ser um antagonista. O volume 12 de Assassinatin Classroom, enfim, revela o famigerado Shinigami (os japoneses realmente adoram usar essa figura folclórica), o assassino de maior periculosidade na história.

A aparição do Shinigami envolveu os alunos da turma E em uma nova missão, tal qual a do hotel durante a excursão de férias. Como daquela vez, a resolução do conflito exigiu a ação dos alunos, em vez dos poderes do Koro-sensei. Com a ausência do professor, a história trabalhou a interação entre os personagens, agora mais experientes de quando estavam envolvidos no incidente do hotel, graças ao treinamento de Karasuma e dos novos uniformes (nem mesmo este mangá se livrou desse clichê). Uma coisa interessante sobre a ideia de os alunos usarem um uniforme de combate é a possibilidade que a história terá para explorar mais cenas de ação sem comprometer a vulnerabilidade dos personagens, afinal, são apenas adolescentes comuns treinados para exercícios de ação. Particularmente, não gostaria de ver o mangá tendendo para essa linha convencional de luta, mesmo que ela seja bastante limitada dentro do universo da história, uma vez que a comédia e as situações tipicamente escolares bastam para sustentar a história.

Uma característica singular que o Yusei Matsui deu a esse novo personagem foi a forma de como ele foi artisticamente apresentado nas cenas. Desde suas primeiras aparições nos volumes anteriores, o Shinigami aparentava ter alguma forma ou poder sobrenatural, o que explicaria a sua fama imbatível de assassino. Mesmo neste volume, a silhueta do Shinigami aparenta conter algo inumano. Por exemplo, quando o personagem mostra seu lado assassino, seu corpo é envolvido por uma sombra negra, como uma segunda pele. Quando ele esconde parte do desejo de matança, para conversar com alguém, a sombra recua até abaixo do pescoço, deixando a cabeça com uma fisionomia humana (cujo rosto é conveniente para enganar as pessoas). Esse mesmo tipo de arte, aliás, é frequentemente usada em outro personagem: o diretor Asano. No volume anterior, quando repreende o filho pelo fracasso na partida contra a turma E, sua fisionomia transforma-se para a de um monstro. Não é que ele tenha se transformado de verdade, mas que sua postura perante o rapaz, humilhando-o, é tão abominável que o próprio filho vê seu pai como um monstro. Da mesma forma, essa aura sobrenatural do Shinigami é apenas uma técnica empregada num plano simbólico; ela não representa, literalmente, os poderes do Shinigami, tanto que a reação dos personagens com relação à sombra que o envolve é aquilo que essa sombra significa: uma técnica assassina para controlar sua presença humana e exteriorizar sua intenção assassina.

O arco do deus da morte coloca os estudantes em uma situação de perigo ao nível do arco do hotel, mas com uma reviravolta interessante envolvendo uma personagem. De qualquer forma, nem as maquinações de Shiro chegam perto da ameaça do Shinigami, que se firma, até agora, como o vilão mais perigoso do mangá.


Nota: 4.5 / 5.0