Autor: Luiz Fabrício de O. Mendes (Goldfield)
Ano: 2014
Páginas: 356
Skoob
Sinopse:
Quando a lenda termina, a aventura começa. Desde que a feiticeira
Morgana Le Fay passou a perseguir e aniquilar os poucos descendentes do Rei
Arthur, a Ordem de Excalibur encarregou-se de espalhá-los pelas colônias e
países amigos do antigo Império Britânico, incluindo o Brasil do Segundo
Reinado. Mais de 150 anos mais tarde, Aurélio Britto, garoto morador da
periferia do Rio de Janeiro, fã de futebol de botão e games de estratégia, é
atacado na casa do avô por um misterioso homem-onça. O dono do antiquário da
esquina, senhor Campbell, revela-se na verdade o milenar mago Merlin, prestes a
apresentá-lo a uma arriscada jornada de herói: sobreviver às investidas dos
seguidores de Morgana e reencontrar a espada Excalibur, desaparecida nas mãos
da Dama do Lago há mais de mil anos. Junto com a implicante Gui (e ai de quem
chamá-la pelo nome inteiro, Guilhermina!), o fã de rock, Gabriel, o pessimista
Bruno e o primo deste, Junior, além do avô Genaro é formado um pacto em torno
de uma mesa de parquinho redonda, visando o objetivo de restaurar o sonho de
Camelot na pessoa de seu último herdeiro.
Resenha
Esse é um daqueles livros
que eu compraria só pela foto do autor na contracapa. Um cosplay do Gendo Ikari
(Evangelion) é para fisgar qualquer otaku que conheça esse mangá/anime genial. Mais
do que isso, o livro chama atenção por sua sinopse, que apresenta uma ficção
histórica infantojuvenil que bebe das lendas do Rei Arthur e que, no
entanto, é ambientada no Brasil.
Parte da crítica voltada
à ficção fantástica nacional almeja uma literatura inspirada em nosso folclore,
mas isso não significa que não possamos importar elementos de culturas
estrangeiras. Luiz Fabrício de O. Mendes, conhecido como Goldfield – devido às
suas fanfics publicadas na internet -, entende que tanto os elementos nacionais
quanto os estrangeiros não são excludentes, e por isso O Legado de Avalon foi
possível de ser concebido. Trata-se de uma aventura que reúne as referências
associadas à lenda do Rei Arthur e vários mitos brasileiros, como a existência
da Cuca e da Iara, todas sustentadas por um fundo histórico fictício na qual
fantasia e História encaixam-se uma na outra de maneira verossímil.
Para escrever uma
história com essas características, o autor aproveitou-se dos conhecimentos
adquiridos em sua formação de professor de História. Durante a aventura de
Aurélio e sua turma, várias curiosidades históricas, geográficas e culturais são
apresentadas ao leitor, além de vários outros detalhes que remetem a essa área
do conhecimento, como o fato do protagonista jogar Age of Civilization e a primeira cena do romance ser uma
brincadeira de STOP (adedonha) envolvendo quesitos históricos – “Hitler é...”
foi um barato; será que Goldfield jogava isso no colégio ou mesmo no faculdade?
O desenvolvimento da
trama segue uma estrutura linear que casa perfeitamente com a tão conhecida Jornada
do Herói, de Joseph Campbell. Inclusive, um dos personagens da história
chama-se Campbell, em possível referência a esse pesquisador. Do Rio de Janeiro
a Minas Gerais, a aventura tem de tudo um pouco: ação, comédia, drama, romance.
Pode agradar os leitores que procuram uma história infantojuvenil equilibrada
entre esses gêneros. A primeira metade do livro é um pouco morna, mas o
desenrolar de alguns acontecimentos a partir da segunda metade proporciona um
ritmo mais dinâmico e instigante à história.
Em termos de linguagem, o
autor oferece uma leitura razoável. Alguns problemas como o uso demasiado de
gerúndio e frases muito longas quebram a continuidade da leitura. Há trechos
que poderiam ter sido mais enxugados, principalmente no começo, e outros em que
o autor acertou a mão e transmitiu acertadamente a sensibilidade dos
personagens.
Sobre estes, em sua
maioria, são interessantes. O protagonista, no entanto, não entra na lista dos
três personagens mais carismáticos, a meu ver: o mago Merlin, a Iara (dama do
lago) e a Guilhermina. Observar um mago em tempos contemporâneos é, no mínimo,
curioso; além disso, por ser um dos mentores do grupo ao lado de Genaro, o avô
de Aurélio, interage muito bem com esses personagens (sem levar em conta seu
gosto por biscoitos de morango e sua fobia por espaços fechados). A Iara é
aquela personagem de língua arisca que sabe desconcertar os personagens, Merlin
principalmente, e que parece ser muito mais do que aparenta. Por fim, a
Guilhermina é a menina de atitude e temperamento forte que é responsável também
por impulsionar a parte romântica da história, mas a seu jeito (talvez se eu
fosse um moleque de doze anos eu me apaixonaria por ela da mesma forma que me
apaixonei pela Hermione).
O Legado de Avalon é
apenas o primeiro volume de uma série que ainda está sendo escrita. É provável
que o enredo e os personagens amadureçam nas próximas aventuras do último
descendente do Rei Arthur, recheadas com o mesmo tempero histórico e
fantástico com os quais esse primeiro livro foi cozinhado.
2 comentários
Muito show! Obrigado por resenhar!
A brincadeira do Stop! Histórico eu já realizei várias vezes em sala de aula em dias que vêm poucos alunos ou quando vou substituir professor em outras salas. Mas ultimamente tenho usado mais Forca História, hauaua!
E você não poderia estar mais certo nas suas impressões sobre a Dama do Lago.